No dia 15 de julho de 2016, o colégio Centro Educacional da Lagoa (CEL), na unidade Maria Angélica, permitiu a realização de um debate durante o horário de aula, organizado pela turma 1233, terceiro ano do ensino médio do turno da tarde.
A turma 1233, que depois de conversar com os professores e conseguir uma conciliação entre os horários das três turmas que possuem aulas no período da tarde (primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio), conseguiu a aprovação para realizar o debate que tinha como tema "Ética e Direitos Humanos".
Atividade diferenciada do comum e sem compromisso com regularidade de cadeiras e mesas, moveu as três salas para o pátio da escola, onde foi feito um grande círculo para que de acordo com os assuntos da pauta escolhidos para realização do debate, pudessem todos se entre olhar e opinar a todo momento. A voz pertencia a quem a quisesse obter.
Um dos assuntos mais comentados no debate foi a discussão sobre a questão da maioridade penal no Brasil, que está sendo ainda discutida entra políticos se irá ou não, ser diminuída de 18 para 16 anos. A maioria dos alunos presente foram enfáticos ao dizer que eram contra a diminuição. Surgiram falas sobre "bandido bom é bandido morto", e após esta, iniciou-se uma acalorada discussão sobre em que casos essa maioridade iria ser aplicada e em que criminoso, o bandido morador de comunidades, negro, ou o bandido da zona sul de classe média alta.
Quando surgiu o assunto do racismo a emoção tomou conta do local. Houveram relatos de alunos vítimas do racismo que resultaram em inúmeros desabafos. Um aluno chegou a relatar a abordagem que sofreu por parte de policiais que confirmaram que apenas o pararam por ser negro. Já outro aluno contou sobre uma conversa com um familiar em que o seu cabelo seria o motivo da sua não contratação em alguma empresa, o que nos mostra o quão forte é a padronização da beleza branca. Foi então que surgiu a seguinte pergunta "existe racismo reverso?", a reposta foi de consenso geral "não". Essa pergunta gerou uma comoção total por sabermos a dificuldade e a caminhada dos negros até chegarem aqui e mais uma vez um aluno não se calou: "eu só aceito algum branco dizer que existe racismo reverso quando você for seguido no shopping por seu cabelo e sua cor de pele, aí você pode me dizer que existe racismo reverso", esse comentário gerou aplausos em todo o local por conta da sua profundidade e sua verdade.
Durante anos presenciamos essa luta negra, sua resistência e persistência para alcançar seu lugar. Um grande exemplo de luta por seu povo foi declarada diversas vezes pela professora de filosofia, mulher e negra que deixou claro sua força e batalha pelo lugar dos negros na sociedade e pelo fim da submissão aos brancos.
Outro assunto que foi citado no debate foi o feminismo. O feminismo é a luta contra o machismo, ou seja, é a luta contra o a imposição de que homens são superiores às mulheres. Todavia estes não são contrários, afinal, o feminismo busca condições de igualdade entre os gêneros. O movimento feminista vem ganhando bastante força com a introdução da internet como meio de comunicação, pois facilita o acesso do conhecimento ao público. Ao mencionar o assunto, alunas se manifestaram com o questionamento “quem que está presente aqui já foi assediada pelo menos alguma vez na vida?”, e praticamente todas as mulheres presentes levantaram a mão. É infeliz saber que embora as mulheres têm conquistado seu espaço na sociedade, atitudes machistas ainda fazem parte do seu cotidiano e elas continuam sendo tratadas como objetos sexuais. Uma aluna também revelou seu descontentamento ao ouvir piadas machistas de seus conhecidos e ser chamada de “gostosa” por homens como se isso fosse um elogio. A grande verdade é que, muitas vezes, tanto homens quanto mulheres reproduzem o sexismo sem perceber, afinal, ele está enraizado na cultura desde muitos anos atrás.
Por conta do horário de duração, não foram permitidos abordar todos os assuntos da pauta de programação. Porém as vozes que antes sussurravam, puderam ao menos uma vez ganhar poder e serem ouvidas. O debate trouxe novas revelações e permitiu que fossem apresentadas realidades e opiniões desconhecidas por alguns. Houve choro, desabafos, empatia e principalmente muitos aplausos.
Por fim, os alunos planejam a organização de um outro debate, e agora não só com as turmas do turno da tarde, o que levou a brincadeira de chamar esse primeiro de "Ética e Direitos Humanos: Parte 1".
A 1233 agora recebe o apoio de todos da tarde, e esperemos que haja mais debates como esse não só no CEL, mas em todos os lugares. A atividade nos trouxe conhecimentos que devem ser apresentados a outros da mesma forma. E que venham mais e mais debates como esses, e que cada vez haja um maior alcance de participantes.
Porque racismo inverso não existe:
Por: Mariana Neves, Stephanie Ferro, Stephanie Sousa e Thayane Gondim


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